Surpreendentemente eficiente. É a
melhor forma de descrever este filme. Eu confesso que esperava bem menos desse
filme, dado a direção de Breno Silveira que já havia dirigido o filme Dois
Filhos de Francisco, o qual - devo dizer -, não me agradou. Talvez eu seja
suspeito para falar desse filme, já que sou um grande fã da música de Gonzaga e
de Gonzaguinha. Mas essa suspeita caiu por terra, quando vi a proposta do
filme, a forma de contar a história desse grande nome da música brasileira – e
do seu filho, também, outro grande nome da nossa música. O diretor optou por
fazer uma narrativa da história de Luiz Gonzaga, baseada nas fitas gravadas
pelo seu filho, durante um momento de tensão entre os dois, onde nestas fitas
continham entrevistas feitas por ele com o seu pai, Luiz Gonzaga.
Essa escolha – muito acertada,
por sinal – foi de grande contribuição para o filme ter dado tão certo. A
narrativa passa de momentos divertidos e de muita memória musical – devo abrir
esse parêntese. Nada é melhor para uma cinebiografia de um músico, do que uma
trilha sonora que faz com que a plateia cante junto e conheça todas as músicas
presentes ali no filme – até momentos de emoção e tensão entre pai e filho, que
fazem com que o filme seja muito equilibrado e adequado para qualquer
audiência.
O diretor parece ter aprendido
muito com os anos que separam Dois Filhos de Francisco deste filme. O filme é
emocionante sem ser canastrão, é engraçado sem ser apelativo, e bonito, em
todos os sentidos, na escolha do elenco, muito acertada – a semelhança dos
atores que fazem o papel de Gonzaga e Gonzaguinha, tanto na aparência, quanto
na voz, é impressionante. Ambos são cantores, na vida real e suas vozes são
muito semelhantes às de pai e filho – quanto na fotografia do filme, que
exprime de forma muito simples, todos os visuais por onde passou a vida do Rei
do Baião, desde o árido sertão e das coloridas festas juninas do nordeste, até
a boemia do Rio de Janeiro da década de 40 com seus cabarés e sambas de rua.
E a forma como o diretor situou a
história do músico com o contexto da época, da revolução
de 30, da nova república e da ditadura militar foi muito acertada. Todos os
fatos do filme se encaixando com o contexto histórico de forma suave e
convincente – o alistamento de Luiz Gonzaga no exército na época da revolução,
a briga entre pai e filho, um ex-militar e o outro, simpatizante do comunismo,
a revolução na música dos anos 60 e 70, que fez com que Gonzaga perdesse sua
fama e notoriedade na mídia. E a figura retratada em Gonzaga tem todas as
nuances que se espera de um personagem tão importante da música brasileira: o
filme mostra todas as faces do cantor, tanto de rapaz apaixonado e pai “babão”,
quanto a de marido machista e pai ausente.
E o melhor de tudo: é um filme
para todos os públicos. Tanto para o público comum, quanto para os cinéfilos
mais críticos e, o público principal, com certeza. Não deixa nada a desejar aos
fãs de Gonzaga. Poderia ter sido um pouco mais longo e ter aproveitado alguns
momentos interessantes da vida do músico. Um filme para rir, sorrir, chorar e cantar junto. Corram para o
cinema. Nota do filme: ✶✶✶✶✶
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Junior Gabriel
Crítico por natureza. Músico e escritor por aspiração. Cursando a faculdade de Psicologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco. Seus temas preferidos são música, cultura e cotidiano. |